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Algumas razões da crise dos mercados editorial e livreiro brasileiros e como ela pode ser resolvida


* Eduardo Villela

Nas últimas semanas o impacto da crise em editoras e livrarias brasileiras ganhou as páginas de jornais e revistas. Gigantes do setor, as livrarias Saraiva e Cultura confirmaram enfrentar graves problemas financeiros que afetam toda uma cadeia, desde as editoras até o leitor final. É, sem dúvida, uma situação preocupante que para entendê-la é necessário olhar para algumas razões que estão além de números.

Um ponto fundamental nessa história toda, a meu ver, tem ligação direta com o fato de que o hábito de leitura do brasileiro está em construção. Um grande desafio ao crescimento do número de leitores no país é a necessidade urgente de melhoria da qualidade do ensino fundamental na rede pública de ensino. Talvez até mais importante do que o papel da família, as escolas têm um peso fundamental na construção do hábito de leitura das crianças.

Além disso, com o crescimento dos índices de desemprego no Brasil, as famílias controlam mais o dinheiro, reduzem seu consumo de forma generalizada e evitam contrair novas dívidas. Isso impacta profundamente o consumo de bens e serviços culturais e educacionais, os quais não são considerados por grande parte dos brasileiros como prioritários. Nesse contexto, as vendas de livros são extremamente afetadas.

De acordo com uma pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), a recessão na economia foi responsável pelo decréscimo de 21% no segmento editorial entre 2006 a 2017. Isso corresponde a uma perda de R$ 1,4 bilhões.

Por fim, com o barateamento dos smartphones e maior acesso da população a uma conexão web rápida e estável, várias novas opções de lazer tornaram-se disponíveis e estão tomando a maior parte do tempo dedicado a leitura de livros. É o caso de serviços de streaming como Netflix, AmazonPrime, YouTube, Spotify e tantos outros.

É preciso reequilibrar essa realidade. Afinal, todas as formas de entretenimento devem ter seu espaço em nossas vidas. Mas o livro vai além de uma simples distração momentânea e as pessoas não devem abrir mão do tempo dedicado à sua leitura. Além do prazer que nos trazem, boas obras nos agregam novos conhecimentos, melhoram a qualidade de nossas reflexões sobre assuntos que nos interessam, despertam a nossa criatividade e ampliam nossa sensibilidade e visão de mundo. É comum, por exemplo, lembrar como ‘Cem Anos de Solidão’ marcou a vida de um jovem aos 18 anos. O mesmo não se pode dizer do impacto de uma série de tevê na formação de alguém. São realidades distintas que precisam ser muito bem diferenciadas.

E como lidar com tais desafios?

Reforçando a importância fundamental do livro na formação educacional, cultural, social e humana principalmente das crianças e jovens.

É necessário que o brasileiro enxergue o valor dos bons livros e o que eles podem acrescentar à sua vida e de seus filhos. Esse é um trabalho de conscientização que precisa ser levado adiante em conjunto por governantes, editores, livreiros, educadores e todos os demais profissionais envolvidos com o universo dos livros.

Só, assim, os danos que os tempos difíceis trazem a editoras e livrarias poderão ser minimizados.

Que os brasileiros possam, em um futuro breve, encarar uma livraria como uma espécie de paraíso, tal como Jorge Luis Borges costumava dizer!

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Eduardo Villela é book advisor e, por meio de assessoria especializada e personalizada, ajuda pessoas a escrever e publicar livros. Mais informações em www.eduvillela.com

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